sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A Paixão Segundo G.H



A Paixão Segundo G.H., Clarice Lispector, 179 páginas, Editora Rocco.

Outro título de Clarice que, para mim, tem como pedra fundamental a surpresa. Portanto, se você tem a edição impressa deste livro NÃO LEIA A ORELHA de José Castello antes de ter lido o texto original, pois ela revela um dos pontos máximos do livro e tira do leitor o prazer de descobrir a narrativa por si só. Ainda bem que eu tenho o hábito de ler primeiro o texto original e só depois, os complementos.

Esse livro não me proporcionou uma experiência de leitura fácil, e não pude lê-lo de uma vez só. Mesmo que tivesse tido o tempo requerido, senti várias vezes necessidade de fazer uma pausa porque o texto consome muito a energia do leitor (foi essa a minha impressão). Não que seja um texto difícil, porém é um texto enigmático e profundo, não foi à toa que Clarice pediu logo no começo a possíveis leitores que lessem esse livro como pessoas “que sabem que a aproximação do quer que seja, se faz gradualmente e penosamente – atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai aproximar. Aquelas pessoas que, só elas, entenderão bem devagar que este livro nada tira de ninguém.” E que por isso ela “ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada”. Não sei se sou uma pessoa assim, de alma já formada. A história me fez lembrar Kafka e não deixa de ter como fundo um tipo de metamorfose (a transcendência), tanto para a autora quanto para os possíveis leitores e para a personagem G.H.

Para dar uma idéia de como fiz esta leitura, comecei num bom ritmo, o qual foi diminuindo em algum ponto lá pela metade do texto, dado que sentia a narrativa me sugando em vários pontos e a necessidade de parar para ‘digerir’. Em alguns momentos vi-me tão perdida quando a personagem, pensando aonde tudo aquilo poderia nos levar. Então chegamos a um outro ponto, antes do clímax apontado na orelha estraga-surpresas, em que a narrativa reacelerou de um modo que mesmo eu tendo de interromper a leitura por motivos externos,  sempre retornava ao ponto de parada com o mesmo entusiasmo: o desejo de chegar ao final porém postergando ao máximo aquela ‘passagem’, razão que me fez chegar à última página e fechar o livro com um: “Cara, bom demais!”

Tive a impressão de que a narrativa traz muito da personagem G.H., porém muito mais da autora e suas inquietações, talvez muito sobre suas questões em relação a Deus ou à religião. Mas aqui apenas especulo. Há muitos estudos já sobre Clarice e sua obra, apenas me limito à minha experiência de leitura com esse intrigante e instigante livro.

Leia e tire suas próprias conclusões.

Avaliação: Ótimo!


Eis o que escrevi no meu skoob enquanto estava lendo: 

"Este livro é tão intenso que só estou conseguindo ler capítulo a capítulo, bem devagar, como se cada capítulo fosse uma iniciação para o próximo. Ele me suga, cada palavra diz muito, cada frase é um mar de sentidos, um mergulho muito bom."



© 2014 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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