segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Crónica de una muerte anunciada



Crónica de una muerte anunciada, Gabriel García Márquez, Debolsillo, 137 páginas, 1993.

Que o personagem principal será assassinado já se sabe desde a primeira frase, mas o que nos leva a não querer desgrudar os olhos do livro até a frase final é a tentativa de, junto ao narrador, descobrirmos o como e os porquês do crime. Chega a ser angustiante. A leitura produziu em mim semelhante sensação à da leitura de Angústia, de Gracialiano Ramos, no entanto aliviada por momentos de humor. A prosa de García Márquez tem essa qualidade especial de esticar ao máximo o realismo até tocar os limites do exagero, o que sempre me deu, ao ler seus livros, a impressão de estar ouvindo trechos de histórias de pescador, típicas coisas assim: 

"(...) desde una mañana en que una sirvienta sacudió la almohada para quitarle la funda, y la pistola se disparó al chocar contra el suelo, y la bala desbarató el armario del cuarto, atravesó la pared de la sala, pasó con un estruendo de guerra por el comedor de la casa vecina y convirtió en polvo de yeso a un santo de tamaño natural en el altar mayor de la iglesia, al otro extremo de la plaza." (Página 12), que me dá a mais gostosa impressão daqueles que sabem mentir com a cara mais lavada, como se tudo fosse possível e perfeitamente justificável, como a vida real, na maioria das vezes, de fato é. 

"Sobre todo, nunca le pareció legítimo que la vida se sirviera de tantas casualidades prohibidas a la literatura, para que se cumpliera sin tropezos una muerte tan anunciada".

Na minha opinião ele consegue fazer esse jogo com maestria e de forma única, eis o DNA de sua forma de contar histórias, que é o que consegui identificar em todos os textos que já li dele, o que talvez tenha levado teóricos à denominação de um novo gênero, o conhecido realismo-mágico. Eu não gosto muito de rótulos, de modo que comecei a ler os textos de Gabo sem muito background teórico, mas consigo ver formas únicas de manipular o limite da realidade, como Mia Couto também consegue fazer muito bem, mas de outro modo, também único e especial. E eu amo a literatura de ambos. 

Além da estrutura da narrativa, gosto muito da forma como Gabo manipula o tempo nesta história, dentre outras coisas que aqui não vejo necessidade de citar.

É isso: mais um ótimo texto de Gabo! Li em Espanhol.

Avaliação: Ótimo


Outros livros de Gabo e Mia Couto comentados no Bluemaedel (Blog anterior a este).

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