sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte VIII

A décima quinta leitura do ano foi o eletrizante Glitter, do escritor brasileiro Bruno Ribeiro (Editora Moinhos, 200 páginas).  Explorando técnicas do kitsch e do grotesco, e tendo como tema os bastidores do mundo da moda, Glitter revela de maneira muito original um quadro bastante nítido do caldeirão de sentimentos que ajudaram a formar o Brasil contemporâneo: um país racista, classista, teocrático e intolerante com o diferente, um país mergulhado num circo de horrores que virou normalidade e cotidiano. Glitter termina por revelar como uma sociedade vai, aos poucos, sendo preparada - principalmente pela mídia - para aceitar os piores absurdos como coisas absolutamente normais. Com certeza, Glitter já faz parte do conjunto de obras que ajudarão, no futuro, a compreender os rumos tomados pelo Brasil no início do século XXI.


A décima sexta leitura foi o ensaio O amanhã não está à venda, do autor indígena Ailton Krenak (Editora Cia das Letras, 12 páginas). Uma leitura curta que traz uma reflexão essencial sobre o presente e o futuro  que - talvez - ainda possamos evitar. É preciso sair do círculo vicioso que está nos levando como espécie à destruição do planeta. Entender que a natureza e a vida - de todos os seres - não são mercadoria já é um bom começo. Leitura imprescindível!






© 2014-2020 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte VII


A décima terceira leitura do ano foi o ensaio "A cruel pedagogia do vírus", do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, editora Almedina, 32 páginas. Sim, priorizar a lucidez e tratar de informar-se, bem como tentar manter a serenidade para poder refletir sobre a situação ainda são os melhores remédios contra todos os males. Sem dúvidas, esta foi uma leitura que muito me ajudou a compreender os enormes desafios que ainda temos para além do coronavírus.


A décima quarta leitura se trata da novela gráfica de Reneé Nault para o famoso livro de Margaret Atwood, "Der Report der Magd" (O conto da criada), editora berlin. Foi uma leitura mais impactante do que a leitura do livro original porque imagens têm o poder de revelar o que por ventura se esconde em um texto. Seja o livro original, a série da Netflix ou a novela gráfica, o romance de Margaret Atwood é uma leitura imprescindível, ainda mais nesses nossos tempos de pandemia, desinformação, conservadorismo exacerbado, atentados contra a democracia, pseudo cristianismo, antipolítica, enfim: é uma leitura super necessária, um kit de sobrevivência nestes tempos de hipocrisia sem antecedentes.









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terça-feira, 13 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte VI

A décima primeira leitura do ano foi feita em parceria com a minha filha. Se trata da novela gráfica de Ari Folman e David Polonsky, "O Diário de Anne Frank" - editora Fischer, 158 páginas. Sim, o tema é delicado e eu já havia lido a história de Anne em outras edições. O fato de termos lido este diário juntas, em forma de novela gráfica, e bem no meio de uma quarentena, fez com que pudéssemos sentir de maneira muito mais empática a situação de Anne e sua família. Por incrível que pareça, minha filha reagiu a esse livro de uma maneira bastante sóbria. A leitura nos permitiu conversar sobre o porquê de coisas terríveis como esta terem acontecido, e do que é preciso fazer para que horrores assim sejam punidos e nunca mais se repitam na história da humanidade. Conversamos sobre os crimes do passado e também sobre os crimes que estão sendo praticados agora, contra a humanidade, como o genocídio dos povos indígenas, a destruição da fauna e da flora e de qualquer possibilidade de futuro neste planeta. Minha filha também é alemã e antes que nós duas lêssemos juntas o diário de Anne Frank, ela já havia sido introduzida - por meio de material feito para crianças da idade dela - aos crimes cometidos contra a humanidade pelos nazi-fascistas na Segunda Grande Guerra.  O trabalho de preservação da memória histórica é essencial para nossa sobrevivência e deve começar o mais cedo possível, exatamente para combater discriminações de todos os tipos e impedir que pessoas e instituições criminosas permaneçam impunes. Sim, com certeza esta foi uma das leituras mais marcantes do ano.


O décimo segundo livro foi a autobiografia de Edward Snowden, "Permanent Record - Meine Geschichte", editora S. Fischer, 429 páginas. Pois se você nunca ouviu falar de Snowden e não tem idéia do bem que ele nos fez, é sinal de que, como cantava Belchior: "Eles venceram e o sinal está fechado para nós, que somos jovens". Quem são "eles"? Jura que você não sabe?! Não, não é segredo para ninguém que há muito tempo deixamos de ser sujeitos nas redes e nos tornamos todos objetos, nos tornamos todos mercadoria. Pois bem, ter lido a história de Snowden me fez relembrar também o meu passado relativamente nerd e só me fez ter mais gratidão a ele pela coragem de revelar ao mundo o quão nus todos nós estamos na rede e no mundo. Uma das melhores leituras do ano!





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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte V

A nona e a décima leituras deste ano ocorreram por conta da minha participação em dois grupos de leitura. O primeiro grupo, voltado para textos e ensaios sobre o tema feminismo; e o segundo grupo, voltado para a leitura de textos publicados por escritoras brasileiras que foram praticamente esquecidas ao longo da História.  


O nono livro lido foi uma excelente introdução ao entendimento das chamadas "ondas" na história do feminismo. Se trata do livro "Feminismo na atualidade: a formação da quarta onda", de Jacilene Maria Silva, publicação independente, 152 páginas. Para quem não sabe muito sobre o tema, este livro cumpre muito bem o seu papel de fornecer uma introdução.


Já o décimo livro lido foi "A Rainha do Ignoto", considerado o primeiro romance fantástico brasileiro. Fugindo completamente ao padrão da época, este romance - publicado pela primeira vez em 1899 -, foi escrito por uma mulher: a cearense Emília Freitas. A edição relançada pela Editora Mulheres & EDUNISC em 2003 tem 432 páginas. Além de uma fantasia bastante original e muito bem tecida, o livro de Emília Freitas denuncia as limitações a que eram submetidas as mulheres de sua época, bem como as violências que ainda hoje não deixaram de ser praticadas contra as mulheres em todos os lugares. A releitura deste texto em pleno século XXI reforça a idéia de que a luta das mulheres é uma luta eterna, uma luta pelo direito de existir, de sermos vistas como seres humanos com os mesmos direitos que qualquer outro, e pelo direito de podermos guiar nossas próprias vidas como bem quisermos. Vale muito o tempo de ser lido e relido!







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sábado, 10 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte IV

A sétima leitura do ano foi o romance "Der Cellist von Sarajevo" (O violoncelista de Saraievo), de Steven Galloway, editora Luchterhand, 240 páginas. Sem dúvida, uma das leituras que mais me emocionaram. É que, para uma pessoa que nunca viu de perto uma guerra, é difícil acreditar num cenário em que franco-atiradores se escondem à luz do dia para atirar de propósito em pessoas famintas reunidas na fila do pão, em frente a uma padaria. Sair de casa para buscar água e/ou comida é sentença de morte para uma população sitiada pela maior das estupidezes humana: a guerra. Pior ainda é relembrar a história de Saraievo no momento em que pessoas que saem às ruas para protestar pacificamente contra ditadores - como no caso da Bielorússia - sejam presas e espancadas, por vezes até mesmo assassinadas pela polícia desses ditadores. Pior é relembrar a história de Saraievo no momento em que Armênia e Azerbaijão se encontram - outra vez - em guerra por conta de território, e ver que civis inocentes continuam sendo alvos de mísseis e foguetes que não poupam nada nem ninguém. Apesar de tratar de um tema tão sombrio, que é a guerra, o livro consegue tirar da dor e do absurdo uma certa poesia do que significa enfrentar, lutar e resistir. A história de Saraievo e a de seu corajoso violoncelista, ainda que esta última tenha sido uma ficção de Steven Galloway, não está muito distante do que aconteceu na vida real. Sim, uma leitura que me marcou profundamente.


O oitavo livro do ano foi, seguramente,  uma das leituras mais importantes do ano, pois serviu para solidificar a visão que eu tenho para o mundo. Se trata de "O Bem-Viver - uma oportunidade para imaginar outros mundos", de Alberto Acosta, editora Elefante, 135 páginas. Tendo nascido na América Latina e tendo antepassados indígenas, lógico que a  filosofia do Bem-Viver sempre esteve no meu sangue. O que me faltava até então era uma melhor estruturação dessas idéias, que é o que nos fornece o excelente livro de Alberto Acosta. Depois de Acosta vieram outros autores, e o meu caminho rumo a uma especialização no assunto está sendo trilhado com muito prazer, energia e gosto! Busquemos o Bem-Viver e uma vida em harmonia com os demais seres e o planeta!






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sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte III

A quinta leitura de 2020 foi uma releitura do livro "Curtas Histórias, Minicontos", de Maria Beatriz Costa Mecking, editora Alternativa, 96 páginas. Beatriz Mecking também é uma escritora brasileira contemporânea e seus textos, ainda quando se tratam de crônicas ou minicontos, trazem muita poesia, um olhar sereno e maduro de várias situações do cotidiano.


A sexta leitura de 2020 foi uma leitura super necessária que me ajudou a manter a cabeça fora d’água e a tentar entender - com o cérebro e não com os afetos - o que está acontecendo em nosso mundo. Se trata do excelente livro da antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, "Amanhã vai ser maior - o que aconteceu com o Brasil e possíveis rotas de fuga para a a crise atual", editora Planeta, 337 páginas. Aliás, há um entrevista imperdível com a autora, sobre esse livro, no canal Meteoro Brasil. Fica aqui o link e a dica.








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quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte II

Sim, o terceiro livro lido neste ano de 2020, o ano do Coronavírus, foi „Die einzige Geschichte“ (A única história), de Julian Barnes, editora Kiepenheuer & Witsch, 304 páginas. Só pelo título já dá pra sentir que se trata de uma perspectiva bastante parcial. Existe uma única história? Quando? Onde? O protagonista - Marco Paul - conta a sua história (de amor?) com uma mulher mais velha - Susan. É evidente que o narrador se encontra em uma posição muito cômoda e que a culpa sempre (re-)cai mais facilmente em cima da outra parte que, como era de se esperar, permanece calada. Terminei a leitura morrendo de vontade de conhecer a versão de Susan para a história dos dois. Havia outros livros na minha lista de leitura e ainda hoje me pergunto o que teria me levado a mudar a lista de prioridades e ler este livro primeiro. Bem, coisas da vida. Leio o que sinto vontade. Este livro me caiu em mãos na época e comecei a lê-lo, simples assim.


Eu já ia reclamar de ainda não ter lido nenhum livro escrito por mulheres este ano de 2020 quando… Lauren, de Irka Barrios, me caiu em mãos! Irka Barrios é uma jovem escritora brasileira, premiada, e Lauren é seu primeiro livro. Trato de ler meus contemporâneos porque a literatura registra o sentimento do nosso tempo. E em Lauren esses sentimentos são gritantes! Está tudo ali: quem tiver olhos, veja. Quem deseja muito entender a onda de fundamentalismo evangélico pentecostal que está alterando as políticas públicas no Brasil neste momento precisa ler os textos contemporâneos. Lauren é uma adolescente que vive numa cidadezinha no Sul no Brasil. A religião protestante tem grande influência na família dela, sobretudo na figura de um desses pastores enlatados importados do modelo de pseudo-prosperidade estadounidense. Bem, não vou dizer mais nada. O livro me manteve em suspense da primeira até a última página e não quero estragar a surpresa de quem virá a lê-lo. Leia Lauren, de Irka Barrios, editora Caos & Letras, 221 páginas.








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terça-feira, 6 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte I

O que pretendo aqui fazer é um rápido inventário do que andei lendo em 2020, este ano tão estranho que entrará para a História como o Ano do Coronavírus. 


Dois ou três livros por post, ainda não sei. Vou escrevendo e postando, então poderemos ver.


O primeiro livro lido este ano foi o romance April in Paris, de Michael Wallner, editora BTB, 239 páginas. 


Estamos em plena Segunda Guerra Mundial, Paris está ocupada por militares alemães. O narrador, um militar alemão que falava francês como uma pessoa nativa, conta do tempo que passou em Paris trabalhando como tradutor e intérprete para os alemães. Conta também do que viveu com uma moça chamada Chantal, um relacionamento que mudou para sempre a sua vida.


O que mais me marcou neste livro foram as descrições das cenas de tortura. 


Sim, o livro traz histórias muito tristes. No entanto, é um bom livro.


O segundo livro é Fuchs 8, de George Saunders, editora Luchterhand. Páginas não numeradas, porém o livro não deve ter umas 100 páginas.


Este é um livro do qual sempre vou me lembrar com muito carinho, a começar pela forma com que entrou em nossas vidas. Minha filha estava comigo no dia, havíamos ido à livraria procurar por outros títulos. Ali, numa das prateleiras em destaque, estava o pequeno volume chamado Fuchs 8. Não precisei ler toda a contracapa para me sentir capturada. Coube no orçamento e nós o trouxemos para casa. No mesmo dia começamos a lê-lo. Primeiro eu o li sozinha, para ter uma idéia do que trazia o texto. Terminei a leitura com lágrimas nos olhos. Depois o li para minha filha e terminamos ambas com olhos embaçados. Fuchs 8  ou Fox 8 é uma raposa que aprendeu a linguagem dos seres humanos.  Fuchs 8 nos conta da sua vida, sobretudo ele nos conta das lutas que travou para sobreviver às maldades dos seres humanos. Uma fábula? Pode ser. Porém duvido. Real demais. De todos os modos, Fuchs 8 é uma história emocionante que não se vai de nós com o virar da última página. O mundo pode ser sim um lugar melhor. Uma nova mentalidade clama para ser parida. Conseguiremos? Não na nossa geração...








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