sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Leituras 2020 - Parte XV

A quadragésima primeira leitura do ano foi um ótimo encontro com o curioso O Mundo Resplandecente, de Margaret Cavendish (Plutão Livros, 241 páginas), publicado em 1666. Este texto é considerado a primeira utopia escrita (e publicada) por uma mulher no mundo ocidental. Só por isso já vale a pena lê-lo, mas o texto também é rico em questões que, bem exploradas, podem render discussões interessantes tanto para entender o pensamento da época, como para entender o pensamento contemporâneo em relação a muitos aspectos. Margaret Cavendish fez parte do círculo de mulheres intelectuais que ficou conhecido como As Preciosas, e cujas idéias contribuíram fortemente para o desenvolvimento do Iluminismo. Também foi a primeira mulher a poder participar da Royal Society of London. Vale muito a pena ler e conhecer esse mundo resplandecente, em que o poder está nas mãos de uma mulher que valoriza a diplomacia, a ciência e o conhecimento.  Fora esse romance, Margaret publicou vários outros textos. Vale muito a pena pesquisar sobre a biografia e a obra dela.


A quadragésima segunda leitura do ano foi o romance Serotonin - ou Serotonina, como foi traduzido no Brasil -  de Michel Houellebecq (Dumond, 335 páginas). Uma leitura que me incomodou bastante, e segue incomodando, em vários aspectos, até mesmo sob o ponto de vista estético no que tange ao uso de determinadas cenas na história. Pretendo deixar passar um tempo para poder relê-lo e então ter mais base para comentar algo a respeito. O romance toca em temas atuais super relevantes, sobretudo na questão da depressão e no sentimento de impotência ante o poder do Sistema e das grandes corporações. 


A quadragésima terceira leitura do ano foi o romance Eu mataria o presidente, de Adelaide Carraro. Esta leitura faz parte de um projeto de resgatar a obra de autoras brasileiras que foram intencionalmente esquecidas. Eu mataria o presidente trata da temática da adoção e dos maus tratos sofridos e testemunhados pela narradora num tipo de internato, bem como de aspectos históricos relacionados ao ano de 1932.


A quadragésima quarta leitura foi um relatório da ONG CIR sobre a situação de comunidades que dependem da exploração de matérias primas: Der Deutsche Rohrstoffhunger und reine menschenrechtlichen Folgen im Globalen Süden (44 páginas). Trata-se de uma leitura técnica para coleta de dados relacionados ao problema do extrativismo. Por conta das tragédias e crimes lá relatados, não poderia deixar de citar esta leitura também aqui, para fins de registro.


A quadragésima quinta leitura do ano foi o texto O Estudante, atribuído à autora Adelaide Carraro (113 páginas). Um texto com todas as marcas de propaganda de uma ditadura militar ufanista, o famoso discurso das pessoas que se denominam "cidadãos de bem". Não sei se este texto foi de fato escrito por Adelaide. Li para saber do quê se tratava. Fica aqui apenas o registro para, quem sabe, mais tarde, verificar se o texto de é de Adelaide e em quais circunstâncias pode ter sido escrito.  







© 2014-2021 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Leituras 2020 - Parte XIV

A trigésima sexta leitura do ano foi o esclarecedor e super necessário Os engenheiros do caos. Como as fakenews, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições, do italiano Giuliano Da Empoli (Vestígio, 111 páginas). Leitura obrigatória para quem quer entender as estratégias usadas por grupos populistas e o fenômeno da ascensão da extrema direita.


A trigésima sétima leitura foi o conto Los que se marchan de Omelas, da maravilhosa Ursula K. Le Guin (28 páginas). Leitura mais que necessária, obrigatória! A Le Guin é maravilhosa. Ponto!


A trigésima oitava leitura foi o romance Uma mulher diferente, de Cassandra Rios (editora Brasiliense, 180 páginas), outra brasileira cuja história foi intencionalmente apagada e esquecida. Uma mulher diferente me permitiu um encontro impactante com o mundo das pessoas trans. Uma das melhores leituras do ano, não só pelo texto em si, mas muito mais pelo que ele simboliza na História, e também pelo que nos permite experimentar durante a leitura.


A trigésima nona leitura foi o ensaio O Direito à Literatura, do mestre Antonio Candido (26 páginas). Recomendação de um dos blogs de literatura que acompanho no Youtube: Las hojas muertas y otras hojas, de Nicolas Neves. Alargar os horizontes é sempre uma boa pedida.


A quadragésima leitura do ano foi o maravilhoso La vuelta de turca, de Henry James (218 páginas). Leitura maravilhosa! Um prazer e, ao mesmo tempo, uma aula não intencional sobre técnica narrativa.  Terminei a leitura com muito mais dúvidas do que certezas, e foi exatamente isso que me fez amar este texto. Sem dúvidas, uma das melhores experiências de leituras do ano.




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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Leituras 2020 - Parte XIII

A trigésima primeira leitura do ano se trata do imperdível romance La mano izquierda de la oscuridad, de Ursula K. Le Guin (Booket, 331 páginas). Ambientado em outro planeta, este romance dá a quem o lê a oportunidade de vivenciar, de uma forma bastante intensa e maravilhosamente literária, vários aspectos relacionados ao conceito de gênero e a outras categorias igualmente importantes, como aquelas que atingem as pessoas radicalizadas, por exemplo. Eu ainda não havia lido um texto literário que tratasse o gênero de maneira tão bem sucedida. Se termina de ler o livro e as questões ficam martelando, promovendo no cérebro as mudanças de perspectiva tão necessárias para que se consiga, finalmente, desconstruir as milhares de caixinhas nas quais nos enquadramos ou tentam nos enquadrar. Sem dúvida, uma leitura essencial na minha jornada de compreensão do mundo e das diferentes categorias que determinam nosso modo de ser, estar e agir neste mundo de desigualdades entre os seres.


A trigésima segunda leitura se trata da obra O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, de Karl Marx (Editora Boitempo, 174 páginas). Em pleno século XXI nota-se que cada vez mais pessoas usam os termos "comunismo" e "socialismo" com significados totalmente equivocados, como se fossem espantalhos. Tudo o que se diz ser contra o capitalismo ou o que se chama "conservador" é chamado por muitos de "comunista". Exatamente para reagir a esses espantalhos, vi-me impelida a estudar a obra de Karl Marx. Seguindo dicas de especialistas em Marxismo, comecei minha jornada pelo 18 de Brumário, uma análise dos acontecimentos na França que levaram ao golpe promovido por Luís Bonaparte em 1848 e ao que Marx chamou de Bonapartismo. A escolha não poderia ter sido melhor, principalmente para quem está buscando entender fenômenos tais como Trump-Trumpismo, Bostanaro-Bostanarismo*, o italiano Mãos-Limpas e o brasileiro Lava-Jatismo, a ascensão da extrema direita em âmbito global. Leitura mais do que necessária para quem quer de fato entender o saco de gatos no qual agora nos encontramos.


* "erro" proposital.


A trigésima terceira leitura foi uma tentativa de me aproximar da História do Feminismo sob o ponto de vista de uma autora alemã. Ute Gerhard, Frauenbewegung und Feminismus. Eine Geschichte seit 1789 (editorial C.H. Beck, 128 páginas). Uma leitura rápida, agradável e, sobretudo, muito informativa.


A trigésima quarta leitura foi um dos melhores encontros literários que tive no ano de 2020. Trata-se do livro Hospício é deus, diário de Maura Lopes Cançado (Círculo do Livro, 189 páginas). Considerada louca e desequilibrada, Maura foi silenciada e teve sua obra praticamente esquecida. Ao ler este livro, pude compreender como a lucidez, a extrema sensibilidade e o desejo de ser livre e viver como se deseja ameaçam tirar o poder do patriarcado. Justamente por isso, toda e qualquer rebeldia precisa ser punida neste sistema. No livro de Maura se vê como a repressão às mulheres e à sua liberdade se mascara de pseudo-tratamentos contra a loucura e outras supostas doenças mentais. 


A trigésima quinta leitura foi o excelente conto Um Marciano em Roma, de Ennio Flaiano (4 páginas). Este conto descreve o mesmo fenômeno descrito por aquela canção do Gil, A novidade. O conto do Ennio é imperdível, e as canções do Gil também!






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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Leituras 2020 - Parte XII

A vigésima sexta leitura do ano foi o romance Sorte, de Nara Vidal (Editora Moinhos, 142 páginas). Este livro venceu o Prêmio Oceanos de 2018, o que aguçou minha curiosidade de lê-lo. Sorte me agradou bastante e certamente me levará a outros textos de Nara Vidal. Em tempo: a Moinhos é uma editora (ainda) pequena e é dona de um catálogo seleto e bem cuidado. A linha editorial é mais voltada para a publicação de autoras e autores da América Latina. Vale muito a pena a leitura de outros títulos tanto da Moinhos quanto do romance Sorte, de Nara Vidal.


A vigésima sétima leitura do ano foi uma biografia de Jenny Marx. Há alguns anos visitei uma exposição sobre Karl Marx na cidade de Trier, na Alemanha, e lá encontrei este livro: Jenny Marx. Die rote Baronesse, do autor Ulrich Teusch (Rotpunktverlag, 229 páginas). Terminei de ler este ensaio biográfico com a certeza de que Karl Marx não teria sido nem a sombra de quem foi se ele não houvesse jamais conhecido Jenny e, mais importante: se não pudesse ter contado com o intelecto e a colaboração dela em todos os sentidos. Nunca foi tão verdadeira aquela frase: Por trás de um homem que se apresenta como forte, sempre existe uma mulher ainda mais forte. Basta termos os meios e a vontade de ir atrás dos registros históricos para comprovar.


A vigésima oitava leitura do ano foi o romance Úrsula, escrito pela maranhense Maria Firmina dos Reis (Edições Câmara, 136 páginas). Maria Firmina é a primeira escritora negra da qual se tem notícia no contexto da literatura brasileira. Úrsula foi publicado em 1859 e tematiza a escravidão de pessoas negras, a opressão e a violência contra mulheres no Brasil do século XIX. O primeiro capítulo é de tirar o fôlego e nos faz perguntar como é possível que escritos de mulheres talentosas como Maria Firmina sigam desconhecidos e/ou esquecidos do grande público. Precisamos mudar isso urgentemente! Em tempo: os textos de Maria Firmina já se encontram em domínio público.


A vigésima nona leitura do ano foi a novela gráfica Die Drei Leben der Hannah Arendt, (As três vidas de Hannah Arendt) de Ken Krimstein (Editoral DTV, 243 páginas). Uma forma prazeirosa de saber um pouco mais sobre os detalhes da vida e da obra desta grande filósofa. Uma das melhores leituras do ano!  


A trigésima leitura do ano foram o excelentes quadrinhos feministas de Liv Strömquist, I’m every woman (Avant-Verlag, 110 páginas). Liv é uma das minhas autoras preferidas. Ela tem formação em Estudos Culturais, então os quadrinhos dela são sempre uma aula rica e divertida, de cunho feminista, sobre os assuntos mais variados. Em seus quadrinhos anteriores Liv já desvendou os mistérios da vulva e desconstruiu mitos em torno da menstruação (Der Ursprung der Welt - A Origem do Mundo), do amor romântico (Der Ursprung der Liebe - A Origem do Amor). Em I’m every woman Liv trata de mulheres que viveram à sombra de supostos grandes homens (tais como Jenny Marx, Priscilla Presley, Yoko Ono, para citar só umas poucas). Os quadrinhos de Liv são sempre um deleite de desconstrução e um show de informação ao mesmo tempo.






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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Leituras 2020 Parte - XI

A vigésima primeira leitura do ano foi um conto chamado Um conto de natal, de China Mieville (20 páginas). Um ótimo conto! Está disponível no site da Boitempo.


A vigésima segunda leitura do ano foi o excelente texto Las sin parte - Matrimonios y divórcios entre feminismo y marxismo, da autora italiana Cinzia Arruzza (158 páginas). Uma leitura super útil e interessante, que muito me ajudou a compreender - principalmente de um ponto de vista histórico -, por que os movimentos marxistas e feministas não conseguiram convergir em suas pautas, e por que ainda seguem divergindo quando deveriam estar unidos na luta contra todos os tipos de opressões. Claramente se trata de um texto super necessário, uma das melhores leituras do ano.


A vigésima terceira leitura foi o livro Pequeno Manual Antirracista, da filósofa e pesquisadora Djamila Ribeiro (Cia das Letras, 52 páginas). Nunca foi tão urgente falar sobre racismo. Leitura mais do que necessária!


A vigésima quarta leitura do ano foi o ensaio Ur-Fascismo (O Fascismo Eterno), de Umberto Eco, 18 páginas. Nunca um ano me exigiu tantas leituras para compreender a realidade e as ameaças do extremismo quanto 2020… Um texto mais que necessário!


A vigésima quinta leitura do ano foi o livro Mulheres e caça às bruxas (Editora Boitempo, 151 páginas), da maravilhosa Silvia Federici. Quanto mais leio os escritos da Federici, mais claras vão ficando para mim as relações entre capitalismo, opressões e gênero na contemporaneidade e ao longo do tempo, e melhor consigo entender os motivos de tanta violência (em escala global) contra as mulheres. Uma leitura mais que essencial!







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