quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Leituras 2020 - Parte XIII

A trigésima primeira leitura do ano se trata do imperdível romance La mano izquierda de la oscuridad, de Ursula K. Le Guin (Booket, 331 páginas). Ambientado em outro planeta, este romance dá a quem o lê a oportunidade de vivenciar, de uma forma bastante intensa e maravilhosamente literária, vários aspectos relacionados ao conceito de gênero e a outras categorias igualmente importantes, como aquelas que atingem as pessoas radicalizadas, por exemplo. Eu ainda não havia lido um texto literário que tratasse o gênero de maneira tão bem sucedida. Se termina de ler o livro e as questões ficam martelando, promovendo no cérebro as mudanças de perspectiva tão necessárias para que se consiga, finalmente, desconstruir as milhares de caixinhas nas quais nos enquadramos ou tentam nos enquadrar. Sem dúvida, uma leitura essencial na minha jornada de compreensão do mundo e das diferentes categorias que determinam nosso modo de ser, estar e agir neste mundo de desigualdades entre os seres.


A trigésima segunda leitura se trata da obra O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, de Karl Marx (Editora Boitempo, 174 páginas). Em pleno século XXI nota-se que cada vez mais pessoas usam os termos "comunismo" e "socialismo" com significados totalmente equivocados, como se fossem espantalhos. Tudo o que se diz ser contra o capitalismo ou o que se chama "conservador" é chamado por muitos de "comunista". Exatamente para reagir a esses espantalhos, vi-me impelida a estudar a obra de Karl Marx. Seguindo dicas de especialistas em Marxismo, comecei minha jornada pelo 18 de Brumário, uma análise dos acontecimentos na França que levaram ao golpe promovido por Luís Bonaparte em 1848 e ao que Marx chamou de Bonapartismo. A escolha não poderia ter sido melhor, principalmente para quem está buscando entender fenômenos tais como Trump-Trumpismo, Bostanaro-Bostanarismo*, o italiano Mãos-Limpas e o brasileiro Lava-Jatismo, a ascensão da extrema direita em âmbito global. Leitura mais do que necessária para quem quer de fato entender o saco de gatos no qual agora nos encontramos.


* "erro" proposital.


A trigésima terceira leitura foi uma tentativa de me aproximar da História do Feminismo sob o ponto de vista de uma autora alemã. Ute Gerhard, Frauenbewegung und Feminismus. Eine Geschichte seit 1789 (editorial C.H. Beck, 128 páginas). Uma leitura rápida, agradável e, sobretudo, muito informativa.


A trigésima quarta leitura foi um dos melhores encontros literários que tive no ano de 2020. Trata-se do livro Hospício é deus, diário de Maura Lopes Cançado (Círculo do Livro, 189 páginas). Considerada louca e desequilibrada, Maura foi silenciada e teve sua obra praticamente esquecida. Ao ler este livro, pude compreender como a lucidez, a extrema sensibilidade e o desejo de ser livre e viver como se deseja ameaçam tirar o poder do patriarcado. Justamente por isso, toda e qualquer rebeldia precisa ser punida neste sistema. No livro de Maura se vê como a repressão às mulheres e à sua liberdade se mascara de pseudo-tratamentos contra a loucura e outras supostas doenças mentais. 


A trigésima quinta leitura foi o excelente conto Um Marciano em Roma, de Ennio Flaiano (4 páginas). Este conto descreve o mesmo fenômeno descrito por aquela canção do Gil, A novidade. O conto do Ennio é imperdível, e as canções do Gil também!






© 2014-2021 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário