quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Leituras 2020 - Parte X

A décima nona leitura do ano foi a do surpreendente romance Voz, de Christina Dalcher (Rocaeditorial, 350 páginas). A protagonista vive num futuro - não muito distante deste nosso presente - no qual, por não reconhecerem a tempo os sinais, as mulheres se viram privadas até de sua voz física. Neste futuro fictício, pessoas do sexo feminino de qualquer idade tinham que levar no pulso um contador de palavras que lhes dava choques elétricos sempre que o limite diário de 100 palavras fosse ultrapassado. Os choques iam aumentando de intensidade gradualmente e poderiam até matar as pessoas que não acatassem a lei do silêncio. Uma história que vai na mesma vibe de O conto da criada, de Margaret Atwood, mas que a ultrapassa quando se pensa sobre o quê, no mundo fictício de Voz, já virou cotidiano no nosso mundo real surreal. Christina Dalcher é linguista e Voz é seu primeiro romance. Se trata de uma história contada de maneira eletrizante, uma história que reafirma tanto o poder da palavra e da autonomia, quanto a necessidade, mais que urgente, de reagir com unhas e dentes à menor tentativa de nos tirarem a voz, a liberdade e a vida. Vale cada sílaba!


A vigésima leitura do ano foi a do discurso The Dancing Minds, feito num dado evento em 1996 pela autora negra Toni Morrison, vencedora do Premio Nobel de Literatura do ano de 1993. O documento tem 29 páginas, dá pra ler em poucos minutos. Ao revisar minha lista de leituras, percebi que não conseguia me lembrar sobre o quê exatamente tratava esse texto, ou seja, eu simplesmente não me lembrava do que havia lido. Daí voltei e reli o texto, e vi que caí exatamente em uma das situações citadas por Morrison: ler sem refletir, isto é, passar anos numa universidade e no final descobrir que não se aprendeu o mais importante, que é a arte de passar tempo sozinhos, apenas na companhia de nossa própria mente, refletindo sobre o que lemos, aprendemos, sobre o que vimos e/ou experimentamos. O discurso da Morrison trata, por meio de dois exemplos, do ofício de escrever, do papel do leitor, do papel do escritor e de como se dá a interação entre eles. Desde que comecei a registrar impressões de leitura neste blog, essa é a primeira vez que posto curtas reflexões sobre as leituras do ano. Muito provavelmente esqueci do que se tratava o texto da Morrison por tê-lo lido sem o devido tempo para digerí-lo, sem questionar nada específico, sem reflexão. E então eu fiquei me perguntando por que será que li esse texto pela primeira vez e em que circunstâncias. Como foi ele parar na minha lista de leituras? - coisas que agora não consigo me lembrar. A sorte foi eu ter feito uma anotação na lista de leituras do ano, pois agora, com a releitura - e a reflexão sobre o total esquecimento da primeira leitura - tive a oportunidade de voltar ao texto e de refletir tanto sobre o quê andei lendo, como sobre como andei lendo certos textos.






© 2014-2020 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

sábado, 14 de novembro de 2020

Leituras 2020 - Parte IX

A décima sétima leitura do ano foi o livro "Utopien für Realisten" (Utopia para Realistas), do autor holandês Rutger Bregman (editora Rowolht, 302 páginas). Foi uma leitura bastante adequada para o contexto de uma pandemia pois, como se pode ler logo na capa, o tempo está propício para a implementação de idéias antes consideradas impraticáveis, tais como a viabilidade do homeoffice e as vantagens de se ter uma semana com menos horas de trabalho, para que as pessoas possam ter mais tempo para viver, cuidar da saúde etc. Também o quão vantajoso para todos pode ser a implementação de um sistema de renda básica universal. Em resumo, este livro traz conhecimento e idéias práticas para quem está tentando encontrar alternativas ao famigerado capitalismo. Sem dúvidas, uma leitura que valeu cada segundo! 


A décima oitava leitura foi o romance "Mi negro pasado", da autora mexicana Laura Esquivel (Grupo Editorial Penguin Random House, 216 páginas). Este livro é uma continuação da saga de Tita e Pedro, protagonistas de "Como agua para chocolate", que provavelmente é o mais famoso - e talvez o melhor - livro de Laura Esquivel. O tema, como já era de se esperar pelo título, é o racismo misturado a outros tipos de discriminações. Foi uma leitura bastante tranquila, daquelas que servem para nos ajudar a relaxar no final de um dia difícil. Em tempo: a trilha sonora sugerida ao longo do livro também faz parte do pacote de relaxamento literário. Viel Spaß beim lesen!



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