quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Leituras 2020 - Parte X

A décima nona leitura do ano foi a do surpreendente romance Voz, de Christina Dalcher (Rocaeditorial, 350 páginas). A protagonista vive num futuro - não muito distante deste nosso presente - no qual, por não reconhecerem a tempo os sinais, as mulheres se viram privadas até de sua voz física. Neste futuro fictício, pessoas do sexo feminino de qualquer idade tinham que levar no pulso um contador de palavras que lhes dava choques elétricos sempre que o limite diário de 100 palavras fosse ultrapassado. Os choques iam aumentando de intensidade gradualmente e poderiam até matar as pessoas que não acatassem a lei do silêncio. Uma história que vai na mesma vibe de O conto da criada, de Margaret Atwood, mas que a ultrapassa quando se pensa sobre o quê, no mundo fictício de Voz, já virou cotidiano no nosso mundo real surreal. Christina Dalcher é linguista e Voz é seu primeiro romance. Se trata de uma história contada de maneira eletrizante, uma história que reafirma tanto o poder da palavra e da autonomia, quanto a necessidade, mais que urgente, de reagir com unhas e dentes à menor tentativa de nos tirarem a voz, a liberdade e a vida. Vale cada sílaba!


A vigésima leitura do ano foi a do discurso The Dancing Minds, feito num dado evento em 1996 pela autora negra Toni Morrison, vencedora do Premio Nobel de Literatura do ano de 1993. O documento tem 29 páginas, dá pra ler em poucos minutos. Ao revisar minha lista de leituras, percebi que não conseguia me lembrar sobre o quê exatamente tratava esse texto, ou seja, eu simplesmente não me lembrava do que havia lido. Daí voltei e reli o texto, e vi que caí exatamente em uma das situações citadas por Morrison: ler sem refletir, isto é, passar anos numa universidade e no final descobrir que não se aprendeu o mais importante, que é a arte de passar tempo sozinhos, apenas na companhia de nossa própria mente, refletindo sobre o que lemos, aprendemos, sobre o que vimos e/ou experimentamos. O discurso da Morrison trata, por meio de dois exemplos, do ofício de escrever, do papel do leitor, do papel do escritor e de como se dá a interação entre eles. Desde que comecei a registrar impressões de leitura neste blog, essa é a primeira vez que posto curtas reflexões sobre as leituras do ano. Muito provavelmente esqueci do que se tratava o texto da Morrison por tê-lo lido sem o devido tempo para digerí-lo, sem questionar nada específico, sem reflexão. E então eu fiquei me perguntando por que será que li esse texto pela primeira vez e em que circunstâncias. Como foi ele parar na minha lista de leituras? - coisas que agora não consigo me lembrar. A sorte foi eu ter feito uma anotação na lista de leituras do ano, pois agora, com a releitura - e a reflexão sobre o total esquecimento da primeira leitura - tive a oportunidade de voltar ao texto e de refletir tanto sobre o quê andei lendo, como sobre como andei lendo certos textos.






© 2014-2020 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

sábado, 14 de novembro de 2020

Leituras 2020 - Parte IX

A décima sétima leitura do ano foi o livro "Utopien für Realisten" (Utopia para Realistas), do autor holandês Rutger Bregman (editora Rowolht, 302 páginas). Foi uma leitura bastante adequada para o contexto de uma pandemia pois, como se pode ler logo na capa, o tempo está propício para a implementação de idéias antes consideradas impraticáveis, tais como a viabilidade do homeoffice e as vantagens de se ter uma semana com menos horas de trabalho, para que as pessoas possam ter mais tempo para viver, cuidar da saúde etc. Também o quão vantajoso para todos pode ser a implementação de um sistema de renda básica universal. Em resumo, este livro traz conhecimento e idéias práticas para quem está tentando encontrar alternativas ao famigerado capitalismo. Sem dúvidas, uma leitura que valeu cada segundo! 


A décima oitava leitura foi o romance "Mi negro pasado", da autora mexicana Laura Esquivel (Grupo Editorial Penguin Random House, 216 páginas). Este livro é uma continuação da saga de Tita e Pedro, protagonistas de "Como agua para chocolate", que provavelmente é o mais famoso - e talvez o melhor - livro de Laura Esquivel. O tema, como já era de se esperar pelo título, é o racismo misturado a outros tipos de discriminações. Foi uma leitura bastante tranquila, daquelas que servem para nos ajudar a relaxar no final de um dia difícil. Em tempo: a trilha sonora sugerida ao longo do livro também faz parte do pacote de relaxamento literário. Viel Spaß beim lesen!



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sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte VIII

A décima quinta leitura do ano foi o eletrizante Glitter, do escritor brasileiro Bruno Ribeiro (Editora Moinhos, 200 páginas).  Explorando técnicas do kitsch e do grotesco, e tendo como tema os bastidores do mundo da moda, Glitter revela de maneira muito original um quadro bastante nítido do caldeirão de sentimentos que ajudaram a formar o Brasil contemporâneo: um país racista, classista, teocrático e intolerante com o diferente, um país mergulhado num circo de horrores que virou normalidade e cotidiano. Glitter termina por revelar como uma sociedade vai, aos poucos, sendo preparada - principalmente pela mídia - para aceitar os piores absurdos como coisas absolutamente normais. Com certeza, Glitter já faz parte do conjunto de obras que ajudarão, no futuro, a compreender os rumos tomados pelo Brasil no início do século XXI.


A décima sexta leitura foi o ensaio O amanhã não está à venda, do autor indígena Ailton Krenak (Editora Cia das Letras, 12 páginas). Uma leitura curta que traz uma reflexão essencial sobre o presente e o futuro  que - talvez - ainda possamos evitar. É preciso sair do círculo vicioso que está nos levando como espécie à destruição do planeta. Entender que a natureza e a vida - de todos os seres - não são mercadoria já é um bom começo. Leitura imprescindível!






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sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte VII


A décima terceira leitura do ano foi o ensaio "A cruel pedagogia do vírus", do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, editora Almedina, 32 páginas. Sim, priorizar a lucidez e tratar de informar-se, bem como tentar manter a serenidade para poder refletir sobre a situação ainda são os melhores remédios contra todos os males. Sem dúvidas, esta foi uma leitura que muito me ajudou a compreender os enormes desafios que ainda temos para além do coronavírus.


A décima quarta leitura se trata da novela gráfica de Reneé Nault para o famoso livro de Margaret Atwood, "Der Report der Magd" (O conto da criada), editora berlin. Foi uma leitura mais impactante do que a leitura do livro original porque imagens têm o poder de revelar o que por ventura se esconde em um texto. Seja o livro original, a série da Netflix ou a novela gráfica, o romance de Margaret Atwood é uma leitura imprescindível, ainda mais nesses nossos tempos de pandemia, desinformação, conservadorismo exacerbado, atentados contra a democracia, pseudo cristianismo, antipolítica, enfim: é uma leitura super necessária, um kit de sobrevivência nestes tempos de hipocrisia sem antecedentes.









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terça-feira, 13 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte VI

A décima primeira leitura do ano foi feita em parceria com a minha filha. Se trata da novela gráfica de Ari Folman e David Polonsky, "O Diário de Anne Frank" - editora Fischer, 158 páginas. Sim, o tema é delicado e eu já havia lido a história de Anne em outras edições. O fato de termos lido este diário juntas, em forma de novela gráfica, e bem no meio de uma quarentena, fez com que pudéssemos sentir de maneira muito mais empática a situação de Anne e sua família. Por incrível que pareça, minha filha reagiu a esse livro de uma maneira bastante sóbria. A leitura nos permitiu conversar sobre o porquê de coisas terríveis como esta terem acontecido, e do que é preciso fazer para que horrores assim sejam punidos e nunca mais se repitam na história da humanidade. Conversamos sobre os crimes do passado e também sobre os crimes que estão sendo praticados agora, contra a humanidade, como o genocídio dos povos indígenas, a destruição da fauna e da flora e de qualquer possibilidade de futuro neste planeta. Minha filha também é alemã e antes que nós duas lêssemos juntas o diário de Anne Frank, ela já havia sido introduzida - por meio de material feito para crianças da idade dela - aos crimes cometidos contra a humanidade pelos nazi-fascistas na Segunda Grande Guerra.  O trabalho de preservação da memória histórica é essencial para nossa sobrevivência e deve começar o mais cedo possível, exatamente para combater discriminações de todos os tipos e impedir que pessoas e instituições criminosas permaneçam impunes. Sim, com certeza esta foi uma das leituras mais marcantes do ano.


O décimo segundo livro foi a autobiografia de Edward Snowden, "Permanent Record - Meine Geschichte", editora S. Fischer, 429 páginas. Pois se você nunca ouviu falar de Snowden e não tem idéia do bem que ele nos fez, é sinal de que, como cantava Belchior: "Eles venceram e o sinal está fechado para nós, que somos jovens". Quem são "eles"? Jura que você não sabe?! Não, não é segredo para ninguém que há muito tempo deixamos de ser sujeitos nas redes e nos tornamos todos objetos, nos tornamos todos mercadoria. Pois bem, ter lido a história de Snowden me fez relembrar também o meu passado relativamente nerd e só me fez ter mais gratidão a ele pela coragem de revelar ao mundo o quão nus todos nós estamos na rede e no mundo. Uma das melhores leituras do ano!





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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte V

A nona e a décima leituras deste ano ocorreram por conta da minha participação em dois grupos de leitura. O primeiro grupo, voltado para textos e ensaios sobre o tema feminismo; e o segundo grupo, voltado para a leitura de textos publicados por escritoras brasileiras que foram praticamente esquecidas ao longo da História.  


O nono livro lido foi uma excelente introdução ao entendimento das chamadas "ondas" na história do feminismo. Se trata do livro "Feminismo na atualidade: a formação da quarta onda", de Jacilene Maria Silva, publicação independente, 152 páginas. Para quem não sabe muito sobre o tema, este livro cumpre muito bem o seu papel de fornecer uma introdução.


Já o décimo livro lido foi "A Rainha do Ignoto", considerado o primeiro romance fantástico brasileiro. Fugindo completamente ao padrão da época, este romance - publicado pela primeira vez em 1899 -, foi escrito por uma mulher: a cearense Emília Freitas. A edição relançada pela Editora Mulheres & EDUNISC em 2003 tem 432 páginas. Além de uma fantasia bastante original e muito bem tecida, o livro de Emília Freitas denuncia as limitações a que eram submetidas as mulheres de sua época, bem como as violências que ainda hoje não deixaram de ser praticadas contra as mulheres em todos os lugares. A releitura deste texto em pleno século XXI reforça a idéia de que a luta das mulheres é uma luta eterna, uma luta pelo direito de existir, de sermos vistas como seres humanos com os mesmos direitos que qualquer outro, e pelo direito de podermos guiar nossas próprias vidas como bem quisermos. Vale muito o tempo de ser lido e relido!







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sábado, 10 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte IV

A sétima leitura do ano foi o romance "Der Cellist von Sarajevo" (O violoncelista de Saraievo), de Steven Galloway, editora Luchterhand, 240 páginas. Sem dúvida, uma das leituras que mais me emocionaram. É que, para uma pessoa que nunca viu de perto uma guerra, é difícil acreditar num cenário em que franco-atiradores se escondem à luz do dia para atirar de propósito em pessoas famintas reunidas na fila do pão, em frente a uma padaria. Sair de casa para buscar água e/ou comida é sentença de morte para uma população sitiada pela maior das estupidezes humana: a guerra. Pior ainda é relembrar a história de Saraievo no momento em que pessoas que saem às ruas para protestar pacificamente contra ditadores - como no caso da Bielorússia - sejam presas e espancadas, por vezes até mesmo assassinadas pela polícia desses ditadores. Pior é relembrar a história de Saraievo no momento em que Armênia e Azerbaijão se encontram - outra vez - em guerra por conta de território, e ver que civis inocentes continuam sendo alvos de mísseis e foguetes que não poupam nada nem ninguém. Apesar de tratar de um tema tão sombrio, que é a guerra, o livro consegue tirar da dor e do absurdo uma certa poesia do que significa enfrentar, lutar e resistir. A história de Saraievo e a de seu corajoso violoncelista, ainda que esta última tenha sido uma ficção de Steven Galloway, não está muito distante do que aconteceu na vida real. Sim, uma leitura que me marcou profundamente.


O oitavo livro do ano foi, seguramente,  uma das leituras mais importantes do ano, pois serviu para solidificar a visão que eu tenho para o mundo. Se trata de "O Bem-Viver - uma oportunidade para imaginar outros mundos", de Alberto Acosta, editora Elefante, 135 páginas. Tendo nascido na América Latina e tendo antepassados indígenas, lógico que a  filosofia do Bem-Viver sempre esteve no meu sangue. O que me faltava até então era uma melhor estruturação dessas idéias, que é o que nos fornece o excelente livro de Alberto Acosta. Depois de Acosta vieram outros autores, e o meu caminho rumo a uma especialização no assunto está sendo trilhado com muito prazer, energia e gosto! Busquemos o Bem-Viver e uma vida em harmonia com os demais seres e o planeta!






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sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte III

A quinta leitura de 2020 foi uma releitura do livro "Curtas Histórias, Minicontos", de Maria Beatriz Costa Mecking, editora Alternativa, 96 páginas. Beatriz Mecking também é uma escritora brasileira contemporânea e seus textos, ainda quando se tratam de crônicas ou minicontos, trazem muita poesia, um olhar sereno e maduro de várias situações do cotidiano.


A sexta leitura de 2020 foi uma leitura super necessária que me ajudou a manter a cabeça fora d’água e a tentar entender - com o cérebro e não com os afetos - o que está acontecendo em nosso mundo. Se trata do excelente livro da antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, "Amanhã vai ser maior - o que aconteceu com o Brasil e possíveis rotas de fuga para a a crise atual", editora Planeta, 337 páginas. Aliás, há um entrevista imperdível com a autora, sobre esse livro, no canal Meteoro Brasil. Fica aqui o link e a dica.








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quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte II

Sim, o terceiro livro lido neste ano de 2020, o ano do Coronavírus, foi „Die einzige Geschichte“ (A única história), de Julian Barnes, editora Kiepenheuer & Witsch, 304 páginas. Só pelo título já dá pra sentir que se trata de uma perspectiva bastante parcial. Existe uma única história? Quando? Onde? O protagonista - Marco Paul - conta a sua história (de amor?) com uma mulher mais velha - Susan. É evidente que o narrador se encontra em uma posição muito cômoda e que a culpa sempre (re-)cai mais facilmente em cima da outra parte que, como era de se esperar, permanece calada. Terminei a leitura morrendo de vontade de conhecer a versão de Susan para a história dos dois. Havia outros livros na minha lista de leitura e ainda hoje me pergunto o que teria me levado a mudar a lista de prioridades e ler este livro primeiro. Bem, coisas da vida. Leio o que sinto vontade. Este livro me caiu em mãos na época e comecei a lê-lo, simples assim.


Eu já ia reclamar de ainda não ter lido nenhum livro escrito por mulheres este ano de 2020 quando… Lauren, de Irka Barrios, me caiu em mãos! Irka Barrios é uma jovem escritora brasileira, premiada, e Lauren é seu primeiro livro. Trato de ler meus contemporâneos porque a literatura registra o sentimento do nosso tempo. E em Lauren esses sentimentos são gritantes! Está tudo ali: quem tiver olhos, veja. Quem deseja muito entender a onda de fundamentalismo evangélico pentecostal que está alterando as políticas públicas no Brasil neste momento precisa ler os textos contemporâneos. Lauren é uma adolescente que vive numa cidadezinha no Sul no Brasil. A religião protestante tem grande influência na família dela, sobretudo na figura de um desses pastores enlatados importados do modelo de pseudo-prosperidade estadounidense. Bem, não vou dizer mais nada. O livro me manteve em suspense da primeira até a última página e não quero estragar a surpresa de quem virá a lê-lo. Leia Lauren, de Irka Barrios, editora Caos & Letras, 221 páginas.








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terça-feira, 6 de outubro de 2020

Leituras 2020 - parte I

O que pretendo aqui fazer é um rápido inventário do que andei lendo em 2020, este ano tão estranho que entrará para a História como o Ano do Coronavírus. 


Dois ou três livros por post, ainda não sei. Vou escrevendo e postando, então poderemos ver.


O primeiro livro lido este ano foi o romance April in Paris, de Michael Wallner, editora BTB, 239 páginas. 


Estamos em plena Segunda Guerra Mundial, Paris está ocupada por militares alemães. O narrador, um militar alemão que falava francês como uma pessoa nativa, conta do tempo que passou em Paris trabalhando como tradutor e intérprete para os alemães. Conta também do que viveu com uma moça chamada Chantal, um relacionamento que mudou para sempre a sua vida.


O que mais me marcou neste livro foram as descrições das cenas de tortura. 


Sim, o livro traz histórias muito tristes. No entanto, é um bom livro.


O segundo livro é Fuchs 8, de George Saunders, editora Luchterhand. Páginas não numeradas, porém o livro não deve ter umas 100 páginas.


Este é um livro do qual sempre vou me lembrar com muito carinho, a começar pela forma com que entrou em nossas vidas. Minha filha estava comigo no dia, havíamos ido à livraria procurar por outros títulos. Ali, numa das prateleiras em destaque, estava o pequeno volume chamado Fuchs 8. Não precisei ler toda a contracapa para me sentir capturada. Coube no orçamento e nós o trouxemos para casa. No mesmo dia começamos a lê-lo. Primeiro eu o li sozinha, para ter uma idéia do que trazia o texto. Terminei a leitura com lágrimas nos olhos. Depois o li para minha filha e terminamos ambas com olhos embaçados. Fuchs 8  ou Fox 8 é uma raposa que aprendeu a linguagem dos seres humanos.  Fuchs 8 nos conta da sua vida, sobretudo ele nos conta das lutas que travou para sobreviver às maldades dos seres humanos. Uma fábula? Pode ser. Porém duvido. Real demais. De todos os modos, Fuchs 8 é uma história emocionante que não se vai de nós com o virar da última página. O mundo pode ser sim um lugar melhor. Uma nova mentalidade clama para ser parida. Conseguiremos? Não na nossa geração...








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sábado, 11 de julho de 2020

Jenny Marx, Ulrich Teusch




Para quem nunca leu nada sobre Jenny Marx, este livro oferece uma forma bastante acessível, confiável - e confortável - para quem quer começar a se informar sobre esta admirável mulher.

Jenny von Westphalen nasceu em Trier, Alemanha, em 1814. Casou-se com Karl Marx em 1843, com quem viveu até sua morte, em 1881. A maior parte da vida eles passaram em Londres, em exílio.

Neste livro, Ulrich Teusch não constrói uma biografia, mas sim um "retrato" da vida e da personalidade desta mulher, que teve um papel fundamental na vida e nos escritos de Karl Marx. Sim, pois além de parceira para a vida, ela também foi uma parceira intelectual, tanto para Marx quanto para Engels.

Aquele velho dito popular de que a mulher faz o homem se aplica completamente à vida de Jenny Marx. Karl Marx não teria sido quem foi, nem produzido o que produziu, se Jenny não tivesse compartilhado com ele a vida e dado a ele a estrutura que ele precisava para poder se dedicar ao trabalho.

O livro está cheio de passagens reveladoras que não irei aqui traduzir.

Ao final, Teusch fornece algumas dicas de biografias que valem a pena ser lidas. Entre elas, ele cita a escrita por Angelika Limmroth, Jenny Marx. Die Biografie

Fica, então, a dica para ambos:

Ulrich Teusch, Jenny Marx - die rote Baronesse, Rotpunktverlag.
Angelika Limmroth, Jenny Marx. Die Biografie. Dietz Berlin.









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segunda-feira, 29 de junho de 2020

Sorte, Nara Vidal


Sorte, de Nara Vidal, conta histórias de opressões dos mais variados tipos. Sobretudo das opressões que atingem as mulheres, as pessoas de pele negra em geral e, em particular, as violências que sofreram e ainda sofrem as mulheres negras.

 

É uma história que se desenvolve, em sua grande parte, quando a escravidão ainda era legalizada no Brasil, ali no início do século XIX, época em que famílias imigrantes europeias vinham para o país, em plena guerra da Cisplatina. 

 

O que me chama a atenção neste livro da Nara, além do título, é o mosaico de opressões que se pode identificar no que é narrado, coisa que, a meu ver, dá ao texto um caráter de denúncia e testemunho que continua sendo muito necessário, já que vozes oprimidas e subalternas ainda não têm ouvidos em todos os lugares. Também o funcionamento do mecanismo opressor, que conta com a fidelidade de oprimidos que não perdem a chance de se tornar também opressores.

 

Não tem como se ler este livro sem pensar naquela famosa frase do personagem Diadorim de Grande Sertão: Veredas, livro de Guimarães Rosa: "Mulher é gente tão infeliz...". Sim, Diadorim, mas não era pra ser assim, não tem que ser assim... Mas ainda é preciso muita luta para se construir um mundo em que pessoas oprimidas tenham a liberdade de viver a sua vida como desejam, e que tenham o direito de se desenvolver como são. Do início do século XIX até o início do século XXI pode-se ver que as coisas não mudaram tanto. A escravidão continua existindo, só que de outras formas, bem como toda a sorte de imagináveis opressões.

 

Não tem como se ler este livro sem pensar nos crimes de roubo de bebês e de adoções ilegais, coisas que também aconteceram nas ditaduras militares na Europa e na América Latina, e que são um tema bastante atual, cujos traumas se pode ver tratados de maneira literária, por exemplo, em Diario de una princesa montonera – 110% Verdad, da argentina Mariana Eva Perez (2012, Capital Intelectual).

 

Não tem como se ler este livro sem pensar no funcionamento criminoso do sistema manicomial, como aquele que existiu em Barbacena e foi denunciado por Daniela Arbex em Holocausto Brasileiro (2013, Geração), bem como na incompreensão (muito provavelmente) do espectro autista, já que uma das irmãs da protagonista tem um comportamento que se enquadra, em muitos aspectos, nesse quadro. É que, antigamente, todo aquele ou aquela que desviasse do padrão considerado normalidade era taxado/a automaticamente de louca/o, sem falar nas mulheres diagnosticadas como "histéricas".

 

Não tem como se ler este texto e ficar imune às violências que sofreram e sofrem os corpos femininos e negros, sobretudo os corpos femininos negros.

 

Não tem como se ler este texto sem ver o racismo estrutural claramente manifestado, sem perceber a dificuldade das pessoas de pele branca em enxergar as pessoas de pele negra como pessoas, como seres iguais, com a mesma dignidade. Isso, para mim, fica muito claro quando se compara a forma como os personagens de pele branca se referem aos personagens de pele negra, e vice versa, mesmo quando existe uma relação de amizade entre eles e já se levou em  consideração o aspecto do anacronismo – o racismo retratado da época se estende até os dias atuais, e isso se pode também perceber no texto, de maneira sutil. É aquela questão do racismo inconsciente que pessoas de pele mais clara nem sempre conseguem perceber em si mesmas. Este texto tem passagens muito ricas que podem ser estudadas sob este aspecto particular.

 

Por último, não tem como se ler este texto sem perceber que a cor (a negritude, a branquitude e outras construções raciais) é algo que está nos olhos dos personagens de pele clara: os personagens de pele negra enxergam e tratam pessoas como pessoas, independente da cor da pele. Já os personagens de pele clara, não.

 

Por esses e por outros motivos é que, ao ler este texto, se entende que foi muito bem merecido o Premio Oceanos dado a ele em 2019.

 

A Editora Moinhos é uma editora relativamente pequena, porém grande em suas escolhas. A Moinhos tem como princípio trazer aos leitores textos que valem muito a pena ser lidos, textos que têm excelente qualidade literária e que geralmente não encontram tanto espaço no mercado.

 

Nesse momento de pandemia, especialmente, o mercado do livro - a área da cultura em geral -  está passando por uma crise muito grave. Eu, como leitora e amante de literatura, me entristeço ao ver livrarias e editoras tendo que fechar as portas em todo o mundo, por conta da recessão mundial. 

 

De maneira que sou muito grata pela existência da Moinhos e por ter tido a sorte de poder encontrar Sorte, de Nara Vidal, num lugar em que pudesse comprá-lo.

 

Sem mais delongas: leia o livro da Nara. Geralmente não falo sobre conteúdo para não estragar a eventual surpresa de quem ainda lerá o livro. Eu sou o tipo de leitora que, na maioria das vezes, não lê nem sinopse - gosto de mergulhar num texto sem ter lido nada sobre ele antes. Sei lá, adoro testar a minha sorte!

 

Ah, em Sorte você encontrará outras sugestões de títulos da Moinhos que podem despertar a sua curiosidade. Já adianto que esta editora tem um catálogo muito interessante, vale a pena conhecer.

 

Bem, boa sorte na leitura de Sorte, e no que mais você quiser ler. 

Não perca tempo, não deixe Sorte escapar de seus olhos - nem de suas mãos.



 

Sorte, Nara Vidal, Editora Moinhos, 2018, 142 páginas, Ebook.




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domingo, 7 de junho de 2020

Voz, Christina Dalcher


























Uma das coisas que mais chamaram a minha atenção neste romance foi o arrependimento que a protagonista sente em um dado momento: arrependimento por ter, por muito tempo, bancado a "isentona", a "apolítica", a que só se interessava por seus assuntos individuais.

É o seguinte: se a gente não tem consciência do valor do que se tem e não consegue perceber a necessidade da luta constante para manter o que já foi conquistado, depois não adianta reclamar. Talvez até se possa reclamar, mas pode ser que seja tarde, tarde demais.

Uma narrativa eletrizante, do começo até o final!


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sexta-feira, 24 de abril de 2020

Glitter - Bruno Ribeiro

























Ainda não havia terminado de ler este romance quando deixei um comentário na pagina do autor lá no facebook. Eu queria saber como ele havia chegado à ideia ou às ideias que deram origem a Glitter.

Ele, muito gentilmente, respondeu-me que, em 2012, sentiu necessidade de escrever algo sobre a sociedade contemporânea. Para fugir do lugar comum, escolheu um recorte do mundo da moda, mundo que ele conhecia muito bem. O processo de mergulhar num delírio sobre o mundo contemporâneo foi, para ele, um processo muito interessante.

Eu, de minha parte, digo que a leitura deste texto foi uma experiência bastante original. Eu nunca havia imaginado um "evento" como aquele descrito em Glitter.

Não é um texto palatável, já digo, mas é um texto necessário, um texto que serve como testemunho do nosso tempo.

Em primeiro plano, Glitter traz um retrato dos bastidores do mundo da moda. Em segundo plano, revela um retrato muito detalhado dos sentimentos que regem o nosso tempo: um desejo constante de autodestruição, algo que ainda não veio completamente à tona e que por isso é difícil de entender e de explicar. Para mim, este texto revela, sobretudo, a psiquê de uma parcela dos brasileiros (e de outros povos). Para entender o que está acontecendo hoje em dia no cenário político e social brasileiro (também mundial), esse livro é uma leitura obrigatória. Boa parte dos tabus estão ali retratados: os recalques, as neuroses, a mentalidade... As marcas do racismo, do colonialismo, da misoginia, do machismo, da homofobia e da influencia negativa da religião é algo que salta aos olhos.

Glitter explora o kitsch e o grotesco - na mídia e no mundo da moda - e o faz com o claro propósito de "reproduzir" da maneira mais escancarada possível uma realidade que já passou - e muito! - do que se costumava qualificar de "bizarro". Eu não tenho adjetivos para qualificar o que vejo na sociedade atual. Novos adjetivos precisam ainda ser inventados.

Para entender um pouco melhor o conceito de kitsch e grotesco, sugiro este vídeo no youtube.
Este vídeo aqui também é muito interessante para entender a relação do kitsch com a contemporaneidade.

Ao ler Glitter, tive a sensação de estar assistindo a uma mistura de O Labirinto do Fauno (Guillermo del Toro), Balada do Amor e do Ódio (Álex de la Iglesia) e Jogos Vorazes (Suzanne Collins), para citar só algumas referências. É uma narrativa cheia de monstros, monstros humanos, monstros que falam de si e contam de nós.

Para quem estuda a estética relacionada à ideias de sujeira e/ou dejeto este texto precisa ser examinado com mais cuidado. E eu digo isso porque o motivo da "sujeira", do "asqueroso" e do "abjeto" se encontra com muita frequência nos textos contemporâneos, e em âmbito internacional, diga-se de passagem. Fica a dica então para quem está estudando a manifestação desses elementos na literatura contemporânea.

Outras obras contemporâneas que estão muito de acordo com os sentimentos de segundo plano revelados nas subjetividades de Glitter são Julho é um bom mês para morrer, de Roberto Menezes, Lauren, de Irka Barrios e Naufrágio entre amigos, de Eduardo Sabino. 


Bruno Ribeiro, além de escritor e roteirista, é formado em Escrita Criativa e dá oficinas sobre o tema.
Glitter foi finalista da 1a. Edição do Prêmio Kindle de Literatura e ficou entre os pré-selecionados do Prêmio SESC de Literatura 2016.


Bruno Ribeiro, Glitter, Editora Moinhos, 200 páginas.



© 2014-2020 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

domingo, 19 de abril de 2020

Edward Snowden - Permanent Record - Meine Geschichte

























Essa leitura só fez crescer o meu respeito, a minha admiração e a minha gratidão a Edward Snowden, e a todos aqueles que lutam contra os abusos sejam de que natureza forem, ao redor do mundo inteiro.

Recomendo muito!

Edward Snowden, Permanent Record - Meine Geschichte, Editora S. Fischer, 429 páginas.


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terça-feira, 24 de março de 2020

Amanhã vai ser maior - Rosana Pinheiro-Machado

Quer ter uma visão bastante clara do que levou o Brasil a eleger um governo fascista em pleno século XXI? 
Pois leia este livro!
E ao lê-lo descubra, caso ainda não saiba, como a Antropologia também nos ajuda a compreender as sociedades atuais.
Uma leitura que me acrescentou muitíssimo e me ajudou a enxergar que há muito mais resistência do que se imagina, e muitas, muitíssimas formas de lutar e seguir resistindo.

Rosana Pinheiro-Machado, Amanhã vai ser maior, Editora Planeta, 338 páginas (Edição em Ebook)

"Transferir o sonho de um mundo melhor para o futuro é uma posição cômoda. Construir o futuro melhor todos os dias em meio à imperfeição da coletividade e de seus sujeitos é muito menos confortável. A catástrofe dos dias de hoje não pode nos imobilizar" (página 320, Edição em Ebook).

Começar a aceitar a "imperfeição da coletividade" e assumir a imprescindível tarefa do trabalho de base já é uma forma de começar - ou recomeçar.


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domingo, 15 de março de 2020

Der Cellist von Sarajevo, Steven Galloway



















Eu sempre digo que eu não procuro os livros que leio, são os livros que me procuram (e encontram).
Acabei de ler um romance que se passa em Sarajevo, na época da guerra. E pensar que essa guerra aconteceu ali, nos anos 1990, nem faz muito tempo... 
Foi o horror, as pessoas sendo caçadas pelas ruas por franco-atiradores. Uma fila de gente faminta diante de uma padaria, para conseguir o escasso pão de cada dia, quando alguém joga uma granada... Uma só não; duas, três, quatro... enquanto houver ainda gente de pé, sem ser despedaçada, as granadas seguem caindo. 
Eu li a história e fiquei horrorizada, ainda mais por ver que não está muito distante do que estamos vivendo hoje em muitos lugares. 
O que eu quero compartilhar em especial é este trecho aqui:
"Denn die Zivilisation ist keine Sache, die man aufbaut und dann für immer hat. Man muss ständig an ihr bauen, sie tagtäglich wiedererschaffen. Sie verschwindet weitaus schneller, als er es jemals für möglich gehalten hätte. Und wenn er leben will, dann muss er alles in seiner Macht Stehende tun, um zu verhindern, dass die Welt, in der er leben möchte, untergeht. Solange Krieg herrscht, ist das Leben eine Präventivmaßnahme."
Tradução livre e adaptada:
"Porque a civilização não é uma coisa que se constrói e ela assim se mantém para sempre. É preciso construí-la constantemente, todos os dias é preciso reinventá-la. Ela pode desaparecer num piscar de olhos, como se ninguém imaginasse que tal coisa fosse possível. E se desejamos viver, temos que fazer tudo o que pudermos para evitar que esse mundo (civilizado), no qual desejamos viver, desapareça. Enquanto reinar a guerra a vida se resume a um ato preventivo."
Trecho do livro "Der Cellist von Sarajevo", de Steven Galloway, editora Luchterhand, páginas 227-228.
Então é o seguinte: se quisermos viver num mundo civilizado, vamos ter que lutar pela civilização até o fim dos nossos dias. Não há outro caminho. Ela desaparece num piscar de olhos, muito mais rápido do que se possa imaginar.


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Die einzige Geschichte, Julian Barnes

























A intenção de gerar desconfiança ou dúvida sobre o que neste livro é narrado está presente desde o título.
Traduzido ao português, Die einzige Geschichte seria algo como A única (versão da) história, ou A verdadeira história, A verdadeira versão da história, destaque sempre para o "a", artigo determinado.
E depois de ter lido o romance de Steven Galloway - Der Cellist von Sarajevo - está claro que nunca se saberá qual das tantas versões (falsas) da História virou "a" História verdadeira oficial.
Isso significa que não há verdade na História? Não, isso significa apenas que não há uma única verdade, e sim que há muitas! Significa também que nada é assim tão simples de ser entendido ou explicado. Nada é tão simples como tantos desejam.
É uma rede de coisas que se enredam e se influenciam mutuamente que acabam gerando uma determinada situação.
Aliás, se tem uma verdade em toda a História é que a única mentira que se pode identificar logo de cara é a de que os eventos históricos teriam uma simples explicação.
A mentira que tiver mais evidências ou repetições tem grande probabilidade de se tornar "a" História oficial no final...
Sim, mas não é para ficar batendo no conceito do que seria ou não História que estou escrevendo esta nota.
Não, é sobre outra coisa que aqui pretendo pensar: a capacidade dos livros falarem conosco.
Pois foi Virgínia Woolf quem aconselhou as mulheres a lerem coisas escritas por outras mulheres, já que parece ser baixa a probabilidade de encontrarmos em livros escritos por homens respostas para questões do universo não-masculino.
E foi exatamente isso o que eu senti ao ler este livro.
O narrador conta a história do seu relacionamento com uma mulher bem mais velha do que ele.
Eles se conheceram quando ela já tinha duas filhas adultas e ele ainda não tinha completado dezenove anos.
Dá a entender que ele, implicitamente, joga para cima dela a culpa por muitas coisas.
E daí que, ao terminar de ler este livro, fiquei morrendo de curiosidade para conhecer a versão dela para a história desse relacionamento.

Não sei muitas coisas sobre Julian Barnes, este é o primeiro livro dele que eu leio. E comecei a ler porque o título me chamou a atenção, porque eu sabia que tinha toda a pinta do texto caber na classe de "narração não confiável" e, tecnicamente falando, me interesso muito pela forma como esse tipo de texto e narração é construído.

Bem, pode ser que numa releitura eu venha a identificar outros pontos que valham a pena ser apontados. Foi um texto que me causou um certo incômodo e curiosidade ao mesmo tempo, o que, por si só, já é um sinal de que o texto tem substância e que o que ele revela numa primeira leitura é apenas a ponta de um grande iceberg.

Fica a dica então para os exploradores de plantão!

Julian Barnes, Die einzige Geschichte, editora Kiepenheuer & Witsch.



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domingo, 1 de março de 2020

Curtas Histórias - Minicontos - Beatriz Mecking

























Minha história (não tão curta) com este livro

Este livro foi publicado em 2014 e sei que ele chegou às minhas mãos algum tempo depois da publicação. Não sei bem em que data o recebi, mas sei que foi num período turbulento na vida do Brasil, e do mundo. 

Hoje eu busquei este Ebook no meu computador e o li em poucas horas pensando, sobretudo, no que aconteceu no mundo de 2014 para cá, pensando naquilo que me levou a substituir cada vez mais o que eu queria ler por coisas que eu tive que ler nos últimos anos. 

A Democracia no Brasil começou a receber ataques cada vez mais abertos a partir de 2014, com a gestação de um golpe branco que levou ao impedimento da presidente Dilma Roussef, por conta de um suposto crime de responsabilidade. Este momento da história do Brasil está registrado no documentário Democracia em Vertigem, de Petra Costa.

De 2018 para cá o que se tem vivido no Brasil só pode ser descrito como um caos ou a mais pura distopia. Até Goebbels já foi ressuscitado em pronunciamento nacional por membros do atual governo, para os que disserem que estou exagerando.

Foi por isso que eu demorei tanto a retornar a este livro de contos. 

E ao retornar a este Ebook hoje, tive o prazer de me encontrar com as anotações que eu havia feito em leituras anteriores. Pude também refletir sobre os efeitos que os acontecimentos dos últimos anos (em todo o mundo) tiveram nos meus projetos de vida e leitura. 

Nos últimos anos fui obrigada a me enfiar em leituras de livros que tratam de sociologia e politica. Li e reli distopias e uma série de outros livros que me ajudaram a entender o turbilhão pelo qual estamos passando mundialmente. 

Hoje, como um bálsamo, deixei tudo de lado e voltei a este singelo livro de minicontos. Os contos deste livro de Beatriz Mecking são mínimos só no tamanho, mas as mensagens em cada um deles são as mais profundas, as mais tocantes. 

Bom foi ver na releitura do volume que voltei a me emocionar com as mesmas passagens que eu já havia marcado anteriormente no texto.

Uma delas, na época em que foi escrito, apenas retratava o que Jessé Souza muito bem explica em seu livro A Elite do Atraso, texto que revela que o motivo da "revolta" das classes mais abastadas contra o governo de Dilma Roussef nunca foi "só contra a corrupção", como alardeavam. 

A corrupção, aliás é o que menos conta no Brasil de hoje, dado que agora se encontra no poder um grupo de pessoas que estão envolvidas até o pescoço em denúncias de corrupção e milícia, e nada é feito contra elas, apesar das provas e evidências mais do que claras. 

Elas continuam lá, em seus postos, intocáveis. E lá continuarão enquanto estiverem satisfazendo aos interesses daqueles que ganham muito dinheiro com o caos que hoje impera no Brasil.  

O motivo da "revolta" foi bem outro, um que a sociologia parece já ter compreendido, um motivo que também aparece, sem que pretendesse servir como registro histórico, num dos minicontos do livro de Beatriz. Ei-lo:

Minha namorada não chegou muito animada da temporada de férias. "Sabes aquela praia do lado esquerdo da orla, que eu adorava? Agora está imprópria para uso." "Poluída?" "Não, a ralé tomou conta." Aquela vaga impressão, que ultimamente me acompanhava, de que ela não era bem o que eu supunha, aflorou bruscamente. Não fiz comentários, não havia necessidade.

Sim, basta ler este miniconto para concordar com o que também observou Jessé Souza em seu livro A Elite do Atraso

Mas não só de contos que tratam da temática social vive este livro. A maioria são contos que tratam de histórias vividas por pessoas mais velhas que, após terem construído uma vida relativamente bem estruturada, se sentem impelidas a tomar coragem para uma mudança radical, sobretudo mulheres que relatam suas histórias vivendo sob o patriarcado.

Este livro vive de contos que tratam dos mais diversos tipos de relacionamento, das descobertas do amor pela literatura e pelo prazer de escrever, vive de contos que tratam do processo de escrita, do surgimento da inspiração. 

Um dos meus contos preferidos neste volume se chama A Principiante, e conta a história de uma moça que queria ser escritora e de uma experiência que só reforçou a sua convicção no caminho escolhido. 

Bem, é isso. 
Trata-se de uma história não tão curta, porque sei que ela continuará. Cada texto que eu leio sai do papel ou dos Ebooks e passa a fazer parte de mim, do que sou, da minha história com os livros que leio, que escrevo, que reviso, enfim: passa a ser mais um dos contos que me compõem!

Querida Beatriz Mecking, desculpe a demora de anos por este comentário. Muito obrigada por ter me enviado este Ebook e por tê-lo escrito com tanta competência e sensibilidade.

Se você sentiu curiosidade para ler este livro e não o encontrou para comprar, entre em contato com a autora ou com a editora. Imagino que eles poderão informar as formas de ter acesso a este livro.


Curtas Histórias - Minicontos, de Maria Beatriz Costa Mecking, editora Alternativa, 2014, 96 páginas. 


© 2014-2020 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Um dia de gato, Valesca de Assis, Libretos


















Título/Titel: Um dia de gato
Autora/Autorin: Valesca de Assis
Ilustrações/Illustrationen: Antônio Maciel
Editora/Verlag: Libretos
Ano/Jahr: 2013
ISBN: 978-85-88412-31-6

Será que vida de gato é melhor ou pior que vida de cão? Leia este livrinho belamente ilustrado e descubra o que nos revela "Um dia de gato"! 

Ist das Leben eines Katers besser oder schlechter als das Leben eines Hundes? Lesen Sie dieses schön illustrierte Büchlein und finden Sie es heraus!

Este livro nos ajudará a mostrar a variedade da Língua Portuguesa na 20a. Edição da Feira Europeia do Livro Infantil e Juvenil de Saarbrücken. Quer conhecê-lo melhor? Venha nos visitar!

Dieses Buch wird uns helfen, die Vielfalt der portugiesischen Sprache bei der 20. Europäischen Kinder- und Jugendbuchmesse in Saarbrücken zu zeigen. Möchten Sie dieses Buch besser kennenlernen? Kommen Sie uns besuchen!

Europäische Kinder-und Jugendbuchmesse Saarbrücken
BÜCHER BAUEN BRÜCKEN
MI 23. – SA 26. September 2020
Am Cora-Eppstein-Platz, Saarbrücken, Deutschland.



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domingo, 23 de fevereiro de 2020

A viagem da bruxa, Celso Gutfreind, Libretos



















Título/Titel: A viagem da bruxa
Autor/Autor: Celso Gutfreind
Ilustrações/Illustrationen: Martina Schreiner
Editora/Verlag: Libretos
Ano/Jahr: 2019
ISBN: 978-85-5549-054-5

Será possível distinguir uma bruxa de uma fada? Este doce pequeno livro pode nos ajudar a desvendar este segredo.

Ist es möglich, eine Hexe von einer Fee zu unterscheiden? Dieses süße kleine Buch kann uns helfen, dieses Geheimnis zu entschlüsseln.

Este livro nos ajudará a mostrar a variedade da Língua Portuguesa na 20a. Edição da Feira Europeia do Livro Infantil e Juvenil de Saarbrücken. Quer conhecê-lo melhor? Venha nos visitar!

Dieses Buch wird uns helfen, die Vielfalt der portugiesischen Sprache bei der 20. Europäischen Kinder- und Jugendbuchmesse in Saarbrücken zu zeigen. Möchten Sie dieses Buch besser kennenlernen? Besuchen Sie uns!

Europäische Kinder-und Jugendbuchmesse Saarbrücken
BÜCHER BAUEN BRÜCKEN
MI 23. – SA 26. September 2020
Am Cora-Eppstein-Platz, Saarbrücken, Deutschland.



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