Minha história (não tão curta) com este livro
Este livro foi publicado em 2014 e sei que ele chegou às minhas mãos algum tempo depois da publicação. Não sei bem em que data o recebi, mas sei que foi num período turbulento na vida do Brasil, e do mundo.
Hoje eu busquei este Ebook no meu computador e o li em poucas horas pensando, sobretudo, no que aconteceu no mundo de 2014 para cá, pensando naquilo que me levou a substituir cada vez mais o que eu queria ler por coisas que eu tive que ler nos últimos anos.
A Democracia no Brasil começou a receber ataques cada vez mais abertos a partir de 2014, com a gestação de um golpe branco que levou ao impedimento da presidente Dilma Roussef, por conta de um suposto crime de responsabilidade. Este momento da história do Brasil está registrado no documentário Democracia em Vertigem, de Petra Costa.
De 2018 para cá o que se tem vivido no Brasil só pode ser descrito como um caos ou a mais pura distopia. Até Goebbels já foi ressuscitado em pronunciamento nacional por membros do atual governo, para os que disserem que estou exagerando.
Foi por isso que eu demorei tanto a retornar a este livro de contos.
E ao retornar a este Ebook hoje, tive o prazer de me encontrar com as anotações que eu havia feito em leituras anteriores. Pude também refletir sobre os efeitos que os acontecimentos dos últimos anos (em todo o mundo) tiveram nos meus projetos de vida e leitura.
Nos últimos anos fui obrigada a me enfiar em leituras de livros que tratam de sociologia e politica. Li e reli distopias e uma série de outros livros que me ajudaram a entender o turbilhão pelo qual estamos passando mundialmente.
Hoje, como um bálsamo, deixei tudo de lado e voltei a este singelo livro de minicontos. Os contos deste livro de Beatriz Mecking são mínimos só no tamanho, mas as mensagens em cada um deles são as mais profundas, as mais tocantes.
Bom foi ver na releitura do volume que voltei a me emocionar com as mesmas passagens que eu já havia marcado anteriormente no texto.
Uma delas, na época em que foi escrito, apenas retratava o que Jessé Souza muito bem explica em seu livro A Elite do Atraso, texto que revela que o motivo da "revolta" das classes mais abastadas contra o governo de Dilma Roussef nunca foi "só contra a corrupção", como alardeavam.
A corrupção, aliás é o que menos conta no Brasil de hoje, dado que agora se encontra no poder um grupo de pessoas que estão envolvidas até o pescoço em denúncias de corrupção e milícia, e nada é feito contra elas, apesar das provas e evidências mais do que claras.
Elas continuam lá, em seus postos, intocáveis. E lá continuarão enquanto estiverem satisfazendo aos interesses daqueles que ganham muito dinheiro com o caos que hoje impera no Brasil.
O motivo da "revolta" foi bem outro, um que a sociologia parece já ter compreendido, um motivo que também aparece, sem que pretendesse servir como registro histórico, num dos minicontos do livro de Beatriz. Ei-lo:
Minha namorada não chegou muito animada da temporada de férias. "Sabes aquela praia do lado esquerdo da orla, que eu adorava? Agora está imprópria para uso." "Poluída?" "Não, a ralé tomou conta." Aquela vaga impressão, que ultimamente me acompanhava, de que ela não era bem o que eu supunha, aflorou bruscamente. Não fiz comentários, não havia necessidade.
Sim, basta ler este miniconto para concordar com o que também observou Jessé Souza em seu livro A Elite do Atraso.
Mas não só de contos que tratam da temática social vive este livro. A maioria são contos que tratam de histórias vividas por pessoas mais velhas que, após terem construído uma vida relativamente bem estruturada, se sentem impelidas a tomar coragem para uma mudança radical, sobretudo mulheres que relatam suas histórias vivendo sob o patriarcado.
Este livro vive de contos que tratam dos mais diversos tipos de relacionamento, das descobertas do amor pela literatura e pelo prazer de escrever, vive de contos que tratam do processo de escrita, do surgimento da inspiração.
Um dos meus contos preferidos neste volume se chama A Principiante, e conta a história de uma moça que queria ser escritora e de uma experiência que só reforçou a sua convicção no caminho escolhido.
Bem, é isso.
Trata-se de uma história não tão curta, porque sei que ela continuará. Cada texto que eu leio sai do papel ou dos Ebooks e passa a fazer parte de mim, do que sou, da minha história com os livros que leio, que escrevo, que reviso, enfim: passa a ser mais um dos contos que me compõem!
Querida Beatriz Mecking, desculpe a demora de anos por este comentário. Muito obrigada por ter me enviado este Ebook e por tê-lo escrito com tanta competência e sensibilidade.
Se você sentiu curiosidade para ler este livro e não o encontrou para comprar, entre em contato com a autora ou com a editora. Imagino que eles poderão informar as formas de ter acesso a este livro.
Curtas Histórias - Minicontos, de Maria Beatriz Costa Mecking, editora Alternativa, 2014, 96 páginas.
© 2014-2020 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário