domingo, 15 de março de 2020

Die einzige Geschichte, Julian Barnes

























A intenção de gerar desconfiança ou dúvida sobre o que neste livro é narrado está presente desde o título.
Traduzido ao português, Die einzige Geschichte seria algo como A única (versão da) história, ou A verdadeira história, A verdadeira versão da história, destaque sempre para o "a", artigo determinado.
E depois de ter lido o romance de Steven Galloway - Der Cellist von Sarajevo - está claro que nunca se saberá qual das tantas versões (falsas) da História virou "a" História verdadeira oficial.
Isso significa que não há verdade na História? Não, isso significa apenas que não há uma única verdade, e sim que há muitas! Significa também que nada é assim tão simples de ser entendido ou explicado. Nada é tão simples como tantos desejam.
É uma rede de coisas que se enredam e se influenciam mutuamente que acabam gerando uma determinada situação.
Aliás, se tem uma verdade em toda a História é que a única mentira que se pode identificar logo de cara é a de que os eventos históricos teriam uma simples explicação.
A mentira que tiver mais evidências ou repetições tem grande probabilidade de se tornar "a" História oficial no final...
Sim, mas não é para ficar batendo no conceito do que seria ou não História que estou escrevendo esta nota.
Não, é sobre outra coisa que aqui pretendo pensar: a capacidade dos livros falarem conosco.
Pois foi Virgínia Woolf quem aconselhou as mulheres a lerem coisas escritas por outras mulheres, já que parece ser baixa a probabilidade de encontrarmos em livros escritos por homens respostas para questões do universo não-masculino.
E foi exatamente isso o que eu senti ao ler este livro.
O narrador conta a história do seu relacionamento com uma mulher bem mais velha do que ele.
Eles se conheceram quando ela já tinha duas filhas adultas e ele ainda não tinha completado dezenove anos.
Dá a entender que ele, implicitamente, joga para cima dela a culpa por muitas coisas.
E daí que, ao terminar de ler este livro, fiquei morrendo de curiosidade para conhecer a versão dela para a história desse relacionamento.

Não sei muitas coisas sobre Julian Barnes, este é o primeiro livro dele que eu leio. E comecei a ler porque o título me chamou a atenção, porque eu sabia que tinha toda a pinta do texto caber na classe de "narração não confiável" e, tecnicamente falando, me interesso muito pela forma como esse tipo de texto e narração é construído.

Bem, pode ser que numa releitura eu venha a identificar outros pontos que valham a pena ser apontados. Foi um texto que me causou um certo incômodo e curiosidade ao mesmo tempo, o que, por si só, já é um sinal de que o texto tem substância e que o que ele revela numa primeira leitura é apenas a ponta de um grande iceberg.

Fica a dica então para os exploradores de plantão!

Julian Barnes, Die einzige Geschichte, editora Kiepenheuer & Witsch.



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