A Paixão Segundo
G.H., Clarice Lispector, 179 páginas, Editora Rocco.
Outro título de
Clarice que, para mim, tem como pedra fundamental a surpresa. Portanto, se você
tem a edição impressa deste livro NÃO LEIA A ORELHA de José Castello antes de ter lido o
texto original, pois ela revela um dos pontos máximos do livro e tira do leitor
o prazer de descobrir a narrativa por si só. Ainda bem que eu tenho o hábito de
ler primeiro o texto original e só depois, os complementos.
Esse livro não
me proporcionou uma experiência de leitura fácil, e não pude lê-lo de uma vez
só. Mesmo que tivesse tido o tempo requerido, senti várias vezes necessidade de
fazer uma pausa porque o texto consome muito a energia do leitor (foi essa a
minha impressão). Não que seja um texto difícil, porém é um texto enigmático e
profundo, não foi à toa que Clarice pediu logo no começo a possíveis leitores
que lessem esse livro como pessoas “que sabem que a aproximação do quer que
seja, se faz gradualmente e penosamente – atravessando inclusive o oposto
daquilo que se vai aproximar. Aquelas pessoas que, só elas, entenderão bem
devagar que este livro nada tira de ninguém.” E que por isso ela “ficaria contente
se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada”. Não sei se sou uma pessoa assim, de alma já formada. A história me fez lembrar Kafka e não deixa
de ter como fundo um tipo de metamorfose (a transcendência), tanto para a
autora quanto para os possíveis leitores e para a personagem G.H.
Para dar uma idéia de como fiz esta leitura, comecei num bom ritmo, o qual foi diminuindo em algum ponto lá pela metade do texto,
dado que sentia a narrativa me sugando em vários pontos e a necessidade de
parar para ‘digerir’. Em alguns momentos vi-me tão perdida quando a
personagem, pensando aonde tudo aquilo poderia nos levar. Então chegamos a um
outro ponto, antes do clímax apontado na orelha estraga-surpresas, em que a
narrativa reacelerou de um modo que mesmo eu tendo de interromper a leitura por
motivos externos, sempre retornava ao
ponto de parada com o mesmo entusiasmo: o desejo de chegar ao final porém
postergando ao máximo aquela ‘passagem’, razão que me fez chegar à última página e
fechar o livro com um: “Cara, bom demais!”
Tive a impressão
de que a narrativa traz muito da personagem G.H., porém muito mais da autora e suas
inquietações, talvez muito sobre suas questões em relação a Deus ou à religião. Mas aqui
apenas especulo. Há muitos estudos já sobre Clarice e sua obra, apenas me
limito à minha experiência de leitura com esse intrigante e instigante livro.
Leia e tire suas
próprias conclusões.
Avaliação: Ótimo!
Eis o que escrevi no meu skoob enquanto estava lendo:
"Este livro é tão intenso que só estou conseguindo ler capítulo a capítulo, bem devagar, como se cada capítulo fosse uma iniciação para o próximo. Ele me suga, cada palavra diz muito, cada frase é um mar de sentidos, um mergulho muito bom."
© 2014 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.
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