Não havia planejado. Entrou assim na livraria virtual para dar uma olhada nos títulos mais recentes da editora Moinhos. Ela sabe que os livros da Moinhos são sempre muito bons, ela conhece a qualidade do trabalho que eles fazem. Ela adora literatura latino-americana e sabe que, na Moinhos, sempre encontra um nome que ela ainda não conhecia e que vale muito a pena conhecer, e experienciar. Experienciar um autor ou uma autora é ter contato com algo que ele ou ela escreveu. Então, sem estar procurando, ela se deparou com Rinha de galos, da equatoriana María Fernanda Ampuero, baixou a prova do texto e começou a ler. Não conseguiu parar a leitura no fim da prova, comprou o livro na forma de e-book. Ainda bem que existem os e-books, caso contrário ela não teria como comprar um exemplar impresso - ela odeia a Amazon e tudo faz para não enriquecer ainda mais o monstro dono desse monstro - mas ainda bem que ela pôde comprar um exemplar em forma de e-book num site que ela odeia um pouco menos, embora o site menos odiado não se diferencie tanto de todos os demais que estão presos na cadeia do capitalismo e do comércio digital. Sim, mas caso ela não comprasse o e-book na loja menos ruim dentre as web-monstras, ela também não poderia ter podido comprar de outra forma. É que ela não vive no Brasil e, bem, os detalhes desse detalhe não importam. O que importa é que o livro é ótimo! É daquelas narrativas que te deixam sem fôlego, que não te permitem parar de ler em qualquer ponto ou sequer fazer uma pausa entre o final de um conto e o início de outro. Realmente o livro é muito bom, é impactante! Trata das violências a que os corpos feminizados são submetidos em todo o mundo, todos os dias. Trata das violências, mas também da resistência, nos dá um retrato da pobreza dos ricos nos países do capitalismo dependente, um tipo de gente que nada mais tem além do papel dinheiro, um tipo de elite podre que apesta pior que carniça, mas que usa perfume importado para tentar esconder o fedor. O lugar mais perigoso para muitas pessoas é o próprio "lar", o lugar que pode ser pior que o inferno para muitos. É preciso ainda sensibilizar os ouvidos para poder ouvir os gritos amordaçados das vítimas, não apenas para poder se solidarizar com elas, mas, o mais importante, para saber como denunciar e combater essas violências tamanhas, essas violações cotidianas. Rinha de galos é uma coletânea de contos que, sei, vai ficar marcada por um bom tempo na memória dela. No final do livro ela encontrou uma referência para um livro de poesias da autora portuguesa Adília Lopes. A curiosidade se atiçou, será então a próxima pérola, também da Moinhos, que ela colherá na livraria virtual. É, eu sei que a época não está para os prazeres, mas a leitura é daquele tipo de coisa que nos ajuda a sobreviver. Cada livro, cada texto, cada grito por justiça em forma de narrativa é como se fosse um cilindro de oxigênio que nos garante um dia a mais, um dia a mais, um dia a mais. Ela termina sugerindo que conheçam outros títulos da Moinhos e, sobretudo, outros títulos da María Fernanda Ampuero. A literatura, ela sabe, pode salvar o mundo. A literatura, ela sabe, e eu também sei, é o que nos salva.
María Fernanda Ampuero, Rinha de galos, Editora Moinhos, 2020.
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